quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

resenha | Assassinato no Expresso do Oriente

por Maria Clara

foto: Kindle
Numa viagem para a Inglaterra, Hercule Poirot se depara com uma situação que, para o detetive particular, não é de todo anormal: um passageiro do trem em que ele está morre no meio da noite e não se sabe quem é o responsável pelo crime. Parado no meio da neve, sem ter como seguir viagem, Poirot recebe a tarefa de descobrir o culpado.

Um dos principais detetives criados pela escritora inglesa Agatha Christie, Poirot protagoniza "Assassinato no Expresso do Oriente" e usa seus métodos de investigação para descobrir qual dos passageiros deve ser entregue à polícia quando a viagem terminar. O livro, publicado em 1934, acompanha a análise de Poirot sobre seus companheiros no trem, suas descobertas sobre a ligação de cada um à vítima e seu processo de dedução ao aliar entrevistas à cena do crime.

Como é de costume nos livros escritos por Christie, o leitor descobre cada nova pista junto com o detetive  algumas de suas conclusões, entretanto, só são reveladas no final da história, tornando mais difícil descobrir o culpado pelo crime antes que o próprio Poirot revele a solução. No caso do Expresso do Oriente, o desfecho do mistério pode surpreender, inclusive, o investigador.

O livro foi adaptado para o cinema em 1974, com Albert Finney interoretando Hercule Poirot. Em 2017, a história voltou à tela grande com direção de Kenneth Branagh, que também dá vida ao detetive.




"Assassinato no Expresso do Oriente" foi publicado por diversas editoras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

resenha | Mal secreto

por Maria Clara


Dos sete pecados capitais, a inveja é o mais cometido pelos brasileiros  e o que eles menos confessam praticar. Essa é uma das descobertas que Zuenir Ventura traz em seu livro "Mal secreto", que tem a inveja como tema.

Jornalista, Ventura traz, no livro, o processo de apuração e pesquisas que fez sobre o pecado, de forma que a história gira não apenas em torno da inveja, mas também em volta de si mesma. Desde os questionários enviados a padres e psicanalistas até as entrevistas realizadas em terreiros de umbanda e candomblé, o autor conta suas descobertas e insights sobre o sentimento que as pessoas mais escondem ter.

Ao buscar a definição da inveja e contar histórias de quem se admite praticante ou se reconhece como vítima desse pecado, o autor também mostra suas próprias experiências. Ele é, afinal, tão humano quanto os personagens com quem conversou  logo, não está imune à inveja. É interessante ver como escritor e personagens se relacionam com o pecado capital e a forma como este mal é encarada por instituições religiosas e profissionais de saúde.

O texto, apesar de trazer opiniões de "especialistas", não assume ares de manual sobre a inveja  o que poderia desestimular alguns leitores. Misturando relatos de terceiros a sua própria opinião, Zuenir Ventura entrega um enredo leve e com ares de reportagem, que leva o leitor a refletir, também, sobre sua própria relação com a inveja.

"Mal secreto" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

resenha | Dias de abandono

por Maria Clara

Depois de 15 anos de casada, Olga recebe do marido, Mario, a notícia de que ele está indo embora de casa. Desempregada e sozinha com dois filhos e um cachorro, ela precisa se adaptar à nova vida.

Escrito pela misteriosa italiana Elena Ferrante – pseudônimo de autora desconhecida , "Dias de abandono" acompanha cada fase da reação de Olga ao fim do casamento. Choque, inércia, raiva, dor e negação se alternam enquanto a protagonista lida com a sensação de desamparo e as cobranças de amigos e conhecidos.

O enredo criado por Ferrante envolve o leitor no mesmo ritmo que a separação envolve a protagonista. Se a história começa com Olga agindo como se o fim do casamento não fosse grande coisa, aos poucos a realidade do abandono consome todos os pensamentos e ações da mulher. Seu sofrimento é potencializado por lembranças de uma vizinha dos tempos de criança: chamada de Pobre Coitada, a antiga conhecida perdeu sua vontade de viver depois de ser abandonada pelo marido.

Apesar do medo de repetir a história da Pobre Coitada, Olga também se distancia da vida que levava e da força que possuía. Os amigos insistem que ela precisa de um novo amor para seguir em frente. A amante de Mario é uma espécie de desafio a sua idade e experiência. Seus filhos são uma presença constante do ex-marido. O cachorro figura como uma preocupação indesejada e se soma às crianças como alguém que exige a completa atenção e da protagonista.

Mesmo não sendo excessivamente dramático, o enredo mostra o quanto Olga se sente sufocada e destaca a interação da protagonista com outras mulheres da história. Uma amiga tenta empurrá-la para um novo namorado, a filha estabelece uma espécie de competição e mesmo as lembranças da mãe mostram um ideal feminino de esposa perfeita que Olga não consegue alcançar.

Talvez pela forma de escrita de Ferrante, talvez pela construção bastante humana dos personagens, "Dias de abandono" é um romance no qual o leitor consegue se inserir, compartilhando um pouco do sofrimento de Olga e se imaginando na mesma situação. É uma narrativa simples e sincera que desperta a vontade de conhecer outros títulos da mesma escritora.

"Dias de abandono" foi publicado pelo selo Biblioteca Azul, da Globo Livros. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

resenha | Alice no País das Maravilhas

por Maria Clara

Em 1856, o matemático Charles Lutwidge Dodgson conheceu a pequena Alice Liddell, filha do reitor de Christ Church  uma parte da universidade de Oxford. Na época, Dodgson tinha 24 anos e Alice, quatro. A interação entre os dois rendeu a história "Alice no País das Maravilhas", publicado pelo rapaz sob o pseudônimo Lewis Carroll (veja mais de sua biografia aqui).

Em "Alice no País das Maravilhas", o leitor acompanha a protagonista em uma viagem em busca do Coelho Branco. Tentando encontrar este personagem que está sempre atrasado, a menina conhece um gato que nunca para de sorrir, uma lagarta que fuma narguilé e um chapeleiro mentalmente desequilibrado, entre várias outras figuras icônicas da história.

Um ponto importante do livro é a constante mudança de tamanho de Alice: dependendo do que coma ou beba, a menina pode crescer até se tornar uma gigante ou encolher até que seu queixo bata diretamente em seus pés. Essa variação brusca lembra a forma como o crescimento infantil é tratado pelos adultos  quem não lembra da época em que ainda era pequeno para várias aventuras, mas ao mesmo tempo era grande demais para certos comportamentos?

A história também mostra Alice como uma criança bem educada aprendendo que, em certas situações, as boas maneiras não têm serventia alguma. A menina tenta se lembrar de cada regra de comportamento que já aprendeu em casa, assim como dos ensinamentos que recebeu na escola, para encontrar seu caminho no País das Maravilhas. Os outros personagens, porém, subvertem a lógica bem educada da menina, fazendo com que ela esqueça grande parte das normas de convivência que conhecia.

Marco da literatura nonsense, a criação de Carroll traz situações sem sentido do início ao fim da história. Embora cause estranhamento em alguns leitores (especialmente por causa da relação entre o autor e a Alice real), o livro ainda é um dos principais voltados ao público infantil. 

Apesar de ter sido publicado há mais de 100 anos, ele ainda gera adaptações para o cinema, televisão e outras obras literárias, permanecendo firme no imaginário tanto de crianças quanto de adultos.



"Alice no País das Maravilhas" foi publicado por diversas editoras - as ilustrações nesse post foram feitas por Sir John Tenniel, para uma das edições clássicas da obra. Para adiciona-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

resenha | Terapia

por Maria Clara


Graham Blake é um homem de sucesso, seja na vida profissional, sexual ou familiar. Mesmo assim, o empresário não consegue dormir há longo tempo. Tentando reencontrar a paz de espírito, ele se interna na Clínica de Terapia Vital, onde dará início a uma terapia pouco ortodoxa: durante um mês, terá total controle sobre a vida da família de Roxanna, uma funcionária de sua fábrica.

A história é narrada, alternadamente, por Blake e pelo Dr. Tolgate, seu guia durante a terapia. Tolgate é quem explica ao paciente a extensão de seus poderes. Blake decide se a família de Roxanna encontra tristeza ou felicidade ao longo do mês em que os controla. Ele escolhe se eles enfrentarão desemprego, violência, dificuldade para pagar contas - ele tem a vida de todas aquelas pessoas em suas mãos.

O livro "Terapia", de Ariel Dorfmann, é o representante da Avareza na coleção Plenos Pecados. À primeira vista, é difícil encontrar os sinais de sovinice em Graham Blake - afinal, ele não tem problemas em comprar presentes caros ou o melhor vinho do restaurante durante um jantar com amigos. Mesmo no trato com a família de Roxanna, ele não se preocupa com o valor a ser empregado em seus planos.

A forma como o avaro de Blake se manifesta é diferente: ele não se apega excessivamente ao dinheiro, mas à sua primeira fábrica, ao poder e à própria Roxanna. Essas três coisas se tornam o principal interesse do personagem, que demonstra, aos poucos, ser capaz de abrir mão de qualquer outro elemento de sua vida.

Depois de começar o tratamento, o protagonista entra numa espiral de obsessão pelo controle total daquilo que preza - de acordo com Tolgate, acompanhar a terapia de Blake pode levar o leitor a conhecer melhor seus próprios defeitos. O livro, de fato, é envolvente e leva ao questionamento "o que eu faria se estivesse nessa situação?", mas falta uma abordagem mais clara ao pecado capital que representa.

"Terapia" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

resenha | Canoas e marolas

por Maria Clara

Sentado à beira do rio, um homem espera a hora de conhecer a filha, de quem há algum tempo não sabia nem da existência. É assim que começa "Canoas e marolas", livro de João Gilberto Noll escolhido pela Editora Objetiva para representar a Preguiça na coleção Plenos Pecados.

Bastante curto - são pouco mais de 106 páginas -, o livro não é exatamente fácil de ler. Sem nenhuma vontade para fazer aquilo a que se propõe - seja sair da beira do rio, descobrir um lugar para pernoitar ou ir ao encontro da filha -, o protagonista é a personificação da morosidade e da preguiça. Sua forma de narrar a história demonstra pouca preocupação em marcar a passagem de tempo, de modo que a mistura de um dia ao outro dá a sensação de que ele próprio passa longos períodos tentando decidir se cria ou não coragem para movimentar sua vida.

A ideia da preguiça é bastante forte no enredo inteiro e o leitor consegue, inclusive, ser contagiado pela sensação. Se trata, enfim, de um livro que consegue se integrar muito bem ao seu papel de representar este pecado capital.

"Canoas e marolas" foi publicado pela Editora Objetiva. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

resenha | Ensaio sobre a cegueira

por Maria Clara


Parado no trânsito, enquanto espera que o sinal se abra para os carros, um homem fica cego. Não há doença, não há fatores externos - de um momento a outro, ele simplesmente deixa de enxergar.

Este primeiro personagem de "Ensaio sobre a cegueira", do português José Saramago, apresenta, sem preâmbulos, o enredo do livro. Rapidamente, cada vez mais pessoas são atingidas pela brancura absoluta que toma a visão das pessoas de forma inexplicável. Sua esposa, um homem com catarata, um médico  todos deixam de ver.

O que inicialmente parece ser uma questão de saúde pontual ganha proporções alarmantes, levando o governo a isolar os cegos. A partir daí, o livro se volta a um grupo específico e a história tece reflexões sobre a organização social em situações extremas.

Abandonados, os cegos em quarentena passam a viver em situação degradante. Um grupo rapidamente se apresenta como dominante e usa as dificuldades da falta de visão como forma de opressão. A comida se torna a principal necessidade e, para consegui-la, são requisitadas desde as riquezas que cada um ainda tenha consigo até o corpo das mulheres, estupradas pelos autoproclamados chefes.

Ao longo do livro, os seis cegos do grupo protagonista são auxiliados pela única mulher que ainda consegue enxergar. Assim como a cegueira de todos não tem explicação, o motivo pelo qual ela conserva sua visão é um mistério. Exilada com os outros depois de se fingir de cega para acompanhar o marido, ela se torna os olhos do grupo, auxiliando-os em tarefas diversas e zelando por sua segurança.

A força desta personagem, tanto física quanto psicológica, é a de mais destaque no enredo: ela é a única que tem total dimensão do quanto os seres humanos passaram a viver de forma degradante, quase animal, em meio à sujeira de excrementos diversos e à falta de normas de convívio social que realmente organizem a situação. Outros personagens do grupo também têm grande valor  é o caso do homem com catarata, cuja idade avançada traz a voz da sabedoria, e de uma jovem garota de programa que demonstra extrema bondade para auxiliar a todos. A obstinação e determinação da parte feminina do grupo, porém, é marcante ao longo do enredo.




O romance cria, no leitor, a quase inevitável pergunta: o que cada um de nós faria caso se encontrasse nessa situação? Fosse no papel dos cegos, tendo que aprender a viver sem um dos sentidos, fosse no da única pessoa a enxergar, obrigada pela situação a assistir à degradação social e a tentar salvar quem estiver mais próximo, como reagiríamos a uma mudança tão drástica?

O livro de Saramago, que não sofreu adequações gramaticais nem de pontuação por determinação do próprio autor, foi adaptado para o cinema em 2008, com direção de Fernando Meireles. O filme é estrelado por Julianne Moore e Mark Ruffalo; o mexicano Gael García Bernal e a brasileira Alice Braga fazem parte do elenco.

"Ensaio sobre a cegueira" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Pada adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.
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