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sexta-feira, 16 de março de 2012

Amor virtual

Por Samira

Era tarde de sexta-feira, quando o técnico chegou. A menina de nove anos trazia no rosto um sorriso que ia de uma orelha à outra. Aquele momento seria o início de uma longa história de amor.

O computador era um Pentium 4, com Windows XP – a última novidade no mercado. A internet – discada – era usada, na maioria das vezes, à noite. Esse era o horário mais barato e que, muito provavelmente, não se perderia uma ligação por causa da linha telefônica ocupada. E foi em uma dessas noites que a menina resolveu criar gratuitamente um endereço de correio eletrônico.

A garotinha cresceu e, hoje, dez anos depois, possui oito contas de e-mail. Um para isso, outro para aquilo... Se ela usa todos eles, todos os dias? Não. Na verdade, ela nem sabe como chegou a esse número. O que se sabe é que aquela primeira conta, criada em 2002, já não tem mais tanta utilidade – e quase nunca é aberta.

Em um “quase nunca” desses, ela, que não tinha o que fazer, resolveu abrir a caixa de entrada daquele e-mail. Entre vírus e correntes, uma mensagem de agradecimento pelos dez anos juntos. Era seu primeiro provedor de internet, que aproveitou a oportunidade para dizer que espera estar com ela pelos próximos dez anos, também.

A ficha caiu. Naquele momento ela percebeu que encerrou um relacionamento, mas esqueceu de avisar isso ao seu companheiro de longa data. Falta de coragem? Talvez. Depois de ler aquilo, ela preferiu fechar a janela e continuar fingindo que é fiel à sua primeira paixão. Quem sabe seja melhor assim.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Química Zero

Por Samira

Era manhã de quarta-feira quando o diretor da escola entrou na sala de número 01, onde estava o terceiro ano do ensino médio. Sua fala foi breve, porém segura. Naquele momento houve o anúncio oficial de que a escola havia incorporado um novo professor ao quadro de funcionários.
Como todo bom aluno de ensino médio, fiquei a pensar na matéria que aquele homem iria lecionar. Talvez história, geografia... Mas, não. Ele aparentava ser muito novo para saber a história do mundo e das rochas. Minha dúvida persistiu até o momento em que um colega do fundão levantou a mão e perguntou:
– Ele vai dar aula de quê, diretor?
A resposta assustou como o badalo de um sino às 6h da manhã:
– Química, queridos. Nosso novo professor é especialista na área. Tenho certeza que vocês irão amá-lo.
Respirei fundo e comecei a pensar como eu poderia tirar proveito da situação para tornar-me uma aluna cada dia melhor. Afinal, daquele momento em diante, eu teria, quatro vezes por semana, aula com um especialista. O diretor desejou boa aula, pediu licença e retirou-se da sala.
O professor novato esperava que um de nós quebrasse o silêncio, mas ao ver que ninguém iria falar, resolveu manifestar-se acerca do conteúdo programado para o segundo bimestre. Sem demora, pegou o giz e escreveu no quadro: “Nomenclatura de compostos orgânicos”. Exposto o tema, foi dada a largada para a primeira de muitas aulas complicadas que viriam.
Sempre ocupei a primeira carteira da sala. Se isso era bom porque me ajudava a não desviar o foco da atenção, ao mesmo tempo era ruim porque todo professor, independente da matéria, hora ou outra direcionava uma pergunta para mim. Para não quebrar a rotina, minutos antes do intervalo o professor novato veio em minha direção e...
– Ei, você de pulseira. Que nome eu posso dar para dois átomos de carbono e seis de hidrogênio?
Raciocinei, fiz cálculos e criei fórmulas em minha mente. Quando pensei ter certeza da resposta e resolvi falar, fui interrompida por um elogio.
– Parabéns! É isso mesmo. Dois átomos de carbono com seis de hidrogênio formam um Etano.
Sem reação estava, sem reação fiquei.
– Eu sabia que você iria acertar! São 10h, vamos sair. Após o intervalo continuaremos, disse o professor.
Ao concluir o ensino médio, divorciei-me da Química (apesar do nome, não havia química alguma em nossa relação), reatei o namoro com o Português e fiquei noiva da Comunicação. Sem Etano, encontrei a fórmula do amor perfeito.
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