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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

resenha | Assassinato no Expresso do Oriente

por Maria Clara

foto: Kindle
Numa viagem para a Inglaterra, Hercule Poirot se depara com uma situação que, para o detetive particular, não é de todo anormal: um passageiro do trem em que ele está morre no meio da noite e não se sabe quem é o responsável pelo crime. Parado no meio da neve, sem ter como seguir viagem, Poirot recebe a tarefa de descobrir o culpado.

Um dos principais detetives criados pela escritora inglesa Agatha Christie, Poirot protagoniza "Assassinato no Expresso do Oriente" e usa seus métodos de investigação para descobrir qual dos passageiros deve ser entregue à polícia quando a viagem terminar. O livro, publicado em 1934, acompanha a análise de Poirot sobre seus companheiros no trem, suas descobertas sobre a ligação de cada um à vítima e seu processo de dedução ao aliar entrevistas à cena do crime.

Como é de costume nos livros escritos por Christie, o leitor descobre cada nova pista junto com o detetive  algumas de suas conclusões, entretanto, só são reveladas no final da história, tornando mais difícil descobrir o culpado pelo crime antes que o próprio Poirot revele a solução. No caso do Expresso do Oriente, o desfecho do mistério pode surpreender, inclusive, o investigador.

O livro foi adaptado para o cinema em 1974, com Albert Finney interoretando Hercule Poirot. Em 2017, a história voltou à tela grande com direção de Kenneth Branagh, que também dá vida ao detetive.




"Assassinato no Expresso do Oriente" foi publicado por diversas editoras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

resenha | Mal secreto

por Maria Clara


Dos sete pecados capitais, a inveja é o mais cometido pelos brasileiros  e o que eles menos confessam praticar. Essa é uma das descobertas que Zuenir Ventura traz em seu livro "Mal secreto", que tem a inveja como tema.

Jornalista, Ventura traz, no livro, o processo de apuração e pesquisas que fez sobre o pecado, de forma que a história gira não apenas em torno da inveja, mas também em volta de si mesma. Desde os questionários enviados a padres e psicanalistas até as entrevistas realizadas em terreiros de umbanda e candomblé, o autor conta suas descobertas e insights sobre o sentimento que as pessoas mais escondem ter.

Ao buscar a definição da inveja e contar histórias de quem se admite praticante ou se reconhece como vítima desse pecado, o autor também mostra suas próprias experiências. Ele é, afinal, tão humano quanto os personagens com quem conversou  logo, não está imune à inveja. É interessante ver como escritor e personagens se relacionam com o pecado capital e a forma como este mal é encarada por instituições religiosas e profissionais de saúde.

O texto, apesar de trazer opiniões de "especialistas", não assume ares de manual sobre a inveja  o que poderia desestimular alguns leitores. Misturando relatos de terceiros a sua própria opinião, Zuenir Ventura entrega um enredo leve e com ares de reportagem, que leva o leitor a refletir, também, sobre sua própria relação com a inveja.

"Mal secreto" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

resenha | Dias de abandono

por Maria Clara

Depois de 15 anos de casada, Olga recebe do marido, Mario, a notícia de que ele está indo embora de casa. Desempregada e sozinha com dois filhos e um cachorro, ela precisa se adaptar à nova vida.

Escrito pela misteriosa italiana Elena Ferrante – pseudônimo de autora desconhecida , "Dias de abandono" acompanha cada fase da reação de Olga ao fim do casamento. Choque, inércia, raiva, dor e negação se alternam enquanto a protagonista lida com a sensação de desamparo e as cobranças de amigos e conhecidos.

O enredo criado por Ferrante envolve o leitor no mesmo ritmo que a separação envolve a protagonista. Se a história começa com Olga agindo como se o fim do casamento não fosse grande coisa, aos poucos a realidade do abandono consome todos os pensamentos e ações da mulher. Seu sofrimento é potencializado por lembranças de uma vizinha dos tempos de criança: chamada de Pobre Coitada, a antiga conhecida perdeu sua vontade de viver depois de ser abandonada pelo marido.

Apesar do medo de repetir a história da Pobre Coitada, Olga também se distancia da vida que levava e da força que possuía. Os amigos insistem que ela precisa de um novo amor para seguir em frente. A amante de Mario é uma espécie de desafio a sua idade e experiência. Seus filhos são uma presença constante do ex-marido. O cachorro figura como uma preocupação indesejada e se soma às crianças como alguém que exige a completa atenção e da protagonista.

Mesmo não sendo excessivamente dramático, o enredo mostra o quanto Olga se sente sufocada e destaca a interação da protagonista com outras mulheres da história. Uma amiga tenta empurrá-la para um novo namorado, a filha estabelece uma espécie de competição e mesmo as lembranças da mãe mostram um ideal feminino de esposa perfeita que Olga não consegue alcançar.

Talvez pela forma de escrita de Ferrante, talvez pela construção bastante humana dos personagens, "Dias de abandono" é um romance no qual o leitor consegue se inserir, compartilhando um pouco do sofrimento de Olga e se imaginando na mesma situação. É uma narrativa simples e sincera que desperta a vontade de conhecer outros títulos da mesma escritora.

"Dias de abandono" foi publicado pelo selo Biblioteca Azul, da Globo Livros. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

resenha | Alice no País das Maravilhas

por Maria Clara

Em 1856, o matemático Charles Lutwidge Dodgson conheceu a pequena Alice Liddell, filha do reitor de Christ Church  uma parte da universidade de Oxford. Na época, Dodgson tinha 24 anos e Alice, quatro. A interação entre os dois rendeu a história "Alice no País das Maravilhas", publicado pelo rapaz sob o pseudônimo Lewis Carroll (veja mais de sua biografia aqui).

Em "Alice no País das Maravilhas", o leitor acompanha a protagonista em uma viagem em busca do Coelho Branco. Tentando encontrar este personagem que está sempre atrasado, a menina conhece um gato que nunca para de sorrir, uma lagarta que fuma narguilé e um chapeleiro mentalmente desequilibrado, entre várias outras figuras icônicas da história.

Um ponto importante do livro é a constante mudança de tamanho de Alice: dependendo do que coma ou beba, a menina pode crescer até se tornar uma gigante ou encolher até que seu queixo bata diretamente em seus pés. Essa variação brusca lembra a forma como o crescimento infantil é tratado pelos adultos  quem não lembra da época em que ainda era pequeno para várias aventuras, mas ao mesmo tempo era grande demais para certos comportamentos?

A história também mostra Alice como uma criança bem educada aprendendo que, em certas situações, as boas maneiras não têm serventia alguma. A menina tenta se lembrar de cada regra de comportamento que já aprendeu em casa, assim como dos ensinamentos que recebeu na escola, para encontrar seu caminho no País das Maravilhas. Os outros personagens, porém, subvertem a lógica bem educada da menina, fazendo com que ela esqueça grande parte das normas de convivência que conhecia.

Marco da literatura nonsense, a criação de Carroll traz situações sem sentido do início ao fim da história. Embora cause estranhamento em alguns leitores (especialmente por causa da relação entre o autor e a Alice real), o livro ainda é um dos principais voltados ao público infantil. 

Apesar de ter sido publicado há mais de 100 anos, ele ainda gera adaptações para o cinema, televisão e outras obras literárias, permanecendo firme no imaginário tanto de crianças quanto de adultos.



"Alice no País das Maravilhas" foi publicado por diversas editoras - as ilustrações nesse post foram feitas por Sir John Tenniel, para uma das edições clássicas da obra. Para adiciona-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

resenha | Terapia

por Maria Clara


Graham Blake é um homem de sucesso, seja na vida profissional, sexual ou familiar. Mesmo assim, o empresário não consegue dormir há longo tempo. Tentando reencontrar a paz de espírito, ele se interna na Clínica de Terapia Vital, onde dará início a uma terapia pouco ortodoxa: durante um mês, terá total controle sobre a vida da família de Roxanna, uma funcionária de sua fábrica.

A história é narrada, alternadamente, por Blake e pelo Dr. Tolgate, seu guia durante a terapia. Tolgate é quem explica ao paciente a extensão de seus poderes. Blake decide se a família de Roxanna encontra tristeza ou felicidade ao longo do mês em que os controla. Ele escolhe se eles enfrentarão desemprego, violência, dificuldade para pagar contas - ele tem a vida de todas aquelas pessoas em suas mãos.

O livro "Terapia", de Ariel Dorfmann, é o representante da Avareza na coleção Plenos Pecados. À primeira vista, é difícil encontrar os sinais de sovinice em Graham Blake - afinal, ele não tem problemas em comprar presentes caros ou o melhor vinho do restaurante durante um jantar com amigos. Mesmo no trato com a família de Roxanna, ele não se preocupa com o valor a ser empregado em seus planos.

A forma como o avaro de Blake se manifesta é diferente: ele não se apega excessivamente ao dinheiro, mas à sua primeira fábrica, ao poder e à própria Roxanna. Essas três coisas se tornam o principal interesse do personagem, que demonstra, aos poucos, ser capaz de abrir mão de qualquer outro elemento de sua vida.

Depois de começar o tratamento, o protagonista entra numa espiral de obsessão pelo controle total daquilo que preza - de acordo com Tolgate, acompanhar a terapia de Blake pode levar o leitor a conhecer melhor seus próprios defeitos. O livro, de fato, é envolvente e leva ao questionamento "o que eu faria se estivesse nessa situação?", mas falta uma abordagem mais clara ao pecado capital que representa.

"Terapia" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

resenha | Canoas e marolas

por Maria Clara

Sentado à beira do rio, um homem espera a hora de conhecer a filha, de quem há algum tempo não sabia nem da existência. É assim que começa "Canoas e marolas", livro de João Gilberto Noll escolhido pela Editora Objetiva para representar a Preguiça na coleção Plenos Pecados.

Bastante curto - são pouco mais de 106 páginas -, o livro não é exatamente fácil de ler. Sem nenhuma vontade para fazer aquilo a que se propõe - seja sair da beira do rio, descobrir um lugar para pernoitar ou ir ao encontro da filha -, o protagonista é a personificação da morosidade e da preguiça. Sua forma de narrar a história demonstra pouca preocupação em marcar a passagem de tempo, de modo que a mistura de um dia ao outro dá a sensação de que ele próprio passa longos períodos tentando decidir se cria ou não coragem para movimentar sua vida.

A ideia da preguiça é bastante forte no enredo inteiro e o leitor consegue, inclusive, ser contagiado pela sensação. Se trata, enfim, de um livro que consegue se integrar muito bem ao seu papel de representar este pecado capital.

"Canoas e marolas" foi publicado pela Editora Objetiva. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

resenha | Ensaio sobre a cegueira

por Maria Clara


Parado no trânsito, enquanto espera que o sinal se abra para os carros, um homem fica cego. Não há doença, não há fatores externos - de um momento a outro, ele simplesmente deixa de enxergar.

Este primeiro personagem de "Ensaio sobre a cegueira", do português José Saramago, apresenta, sem preâmbulos, o enredo do livro. Rapidamente, cada vez mais pessoas são atingidas pela brancura absoluta que toma a visão das pessoas de forma inexplicável. Sua esposa, um homem com catarata, um médico  todos deixam de ver.

O que inicialmente parece ser uma questão de saúde pontual ganha proporções alarmantes, levando o governo a isolar os cegos. A partir daí, o livro se volta a um grupo específico e a história tece reflexões sobre a organização social em situações extremas.

Abandonados, os cegos em quarentena passam a viver em situação degradante. Um grupo rapidamente se apresenta como dominante e usa as dificuldades da falta de visão como forma de opressão. A comida se torna a principal necessidade e, para consegui-la, são requisitadas desde as riquezas que cada um ainda tenha consigo até o corpo das mulheres, estupradas pelos autoproclamados chefes.

Ao longo do livro, os seis cegos do grupo protagonista são auxiliados pela única mulher que ainda consegue enxergar. Assim como a cegueira de todos não tem explicação, o motivo pelo qual ela conserva sua visão é um mistério. Exilada com os outros depois de se fingir de cega para acompanhar o marido, ela se torna os olhos do grupo, auxiliando-os em tarefas diversas e zelando por sua segurança.

A força desta personagem, tanto física quanto psicológica, é a de mais destaque no enredo: ela é a única que tem total dimensão do quanto os seres humanos passaram a viver de forma degradante, quase animal, em meio à sujeira de excrementos diversos e à falta de normas de convívio social que realmente organizem a situação. Outros personagens do grupo também têm grande valor  é o caso do homem com catarata, cuja idade avançada traz a voz da sabedoria, e de uma jovem garota de programa que demonstra extrema bondade para auxiliar a todos. A obstinação e determinação da parte feminina do grupo, porém, é marcante ao longo do enredo.




O romance cria, no leitor, a quase inevitável pergunta: o que cada um de nós faria caso se encontrasse nessa situação? Fosse no papel dos cegos, tendo que aprender a viver sem um dos sentidos, fosse no da única pessoa a enxergar, obrigada pela situação a assistir à degradação social e a tentar salvar quem estiver mais próximo, como reagiríamos a uma mudança tão drástica?

O livro de Saramago, que não sofreu adequações gramaticais nem de pontuação por determinação do próprio autor, foi adaptado para o cinema em 2008, com direção de Fernando Meireles. O filme é estrelado por Julianne Moore e Mark Ruffalo; o mexicano Gael García Bernal e a brasileira Alice Braga fazem parte do elenco.

"Ensaio sobre a cegueira" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Pada adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

resenha | O Pistoleiro

por Maria Clara

A primeira frase de "O Pistoleiro", de Stephen King, é basicamente um resumo da história: "O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás". O livro é o primeiro da série A Torre Negra, considerada por vários críticos como a obre prima do escritor norte-americano.

No livro, acompanhamos a jornada de Roland Deschain, último pistoleiro de seu mundo, na perseguição ao misterioso Homem de Preto, personagem  que tem dotes mágicos ou sobrenaturais e que está no caminho do protagonista para a Torre Negra - local que reuniria os diversos universos existentes. O Pistoleiro quer chegar à torre para evitar que seu mundo ( e todos os outros) acabe - siga em frente, como é dito na história.

Por ser a primeira parte de uma série composta por sete livros, "O Pistoleiro" deixa alguns fatos em aberto, ainda introduzindo a narrativa. King não interrompe a história para explicar termos específicos do mundo de Roland nem que mundo é esse; também não diz quem é, de fato, o Homem de Preto. Mesmo assim, não há risco do leitor não entender o que está acontecendo.

O livro tem o início um pouco lento (o próprio autor explica, no prefácio, que a série ganha fôlego nos próximos volumes), mas logo se torna mais envolvente. A relação de Roland com o menino Jake Chambers, que chegou à história depois de sofrer um acidente fatal em seu próprio mundo, e lembranças do passado do pistoleiro mostram a personalidade do protagonista. A reflexão do Homem de Preto sobre a existência de diferentes mundos e universos e como eles estariam ligados pela Torre Negra dá, ao leitor, a certeza de seguir a acompanhar a série, que continua com "A Escolha dos três".




O livro foi adaptado para o cinema e deve estrear em julho de 2017, protagonizado por Idris Elba e Matthew McCounaghey, e o enredo vai além do primeiro livro.

"O Pistoleiro foi publicado pela editora Suma de Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

resenha | A Última carta de amor

por Maria Clara


Londres, 1960. Jennifer Stirling acorda num hospital sem se lembrar de nada sobre sua vida. Sentindo-se deslocada entre os amigos e mesmo com o marido, ela encontra uma carta em seu armário e descobre que estava vivendo um caso extraconjugal antes do acidente que a hospitalizou e tirou sua memória.

Londres, dias atuais. Em busca de uma pauta interessante, a jornalista Ellie Hawthorne encontra uma carta de despedida escrita há 40 anos e tenta descobrir como a história dos envolvidos terminou . Como ela mesma é amante de um homem casado, tenta encontrar, na carta, uma luz para sua vida amorosa.



A história das duas mulheres é contada por Jojo Moyes (autora de "Como eu era antes de você" e "Depois de você") em partes separadas. A primeira começa com Jennifer despertando no hospital e tentando entender sua vida. A narrativa mistura fatos que aconteceram antes do acidente às consequências de seu relacionamento com o homem que assina apenas como "B." em sua carta de despedida. O enredo mostra o papel que se esperava das mulheres britânicas nos anos 60 e a necessidade de se manter as aparências, especialmente no que se refere à felicidade conjugal.

A segunda parte foca na pesquisa de Ellie, enquanto ela analisa seu namoro com o escritor John. Cansada de se esconder de todos e tendo que enfrentar o julgamento dos amigos por ser amante de um homem casado, ela também enfrenta problemas no trabalho, já que a preocupação com a vida amorosa a impede de se concentrar em suas tarefas.

Romântico e leve, o livro de Moyes é repleto de reviravoltas, especialmente na história de Jennifer. Os desencontros que a afastam do homem que ama deixam o leitor sempre em dúvida sobre a possibilidade de um final feliz. Embora a narrativa de Ellie também conquiste o leitor, a segunda parte do livro parece ter apenas a finalidade de mostrar o desfecho da história iniciada em 1960. Ainda assim, o livro mantém o leitor envolvido nos dramas das duas protagonistas.

"A Última carta de amor" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

resenha | Julieta

por Maria Clara


O mundo conhece a história de Romeu e Julieta, os amantes imortalizados por Shakespeare que, graças à inimizade entre suas famílias, encontram um trágico fim enquanto lutam por seu amor. No romance "Julieta", Anne Fortier oferece uma nova versão à história, quando a protagonista Julie Jacobs descobre que é herdeira da heroína shakespeariana.

Com a morte da tia que a criou, Julie descobre um segredo de família. Seu nome verdadeiro é Giulietta e, de acordo com pesquisas de seus pais, ela e sua irmã Janice - na verdade, Gianozza - são descendentes da dama Giulietta Tolomei, que vivera em Siena em 1340. A protagonista, então, viada à Itália em busca de uma herança misteriosa.

Julie descobre, em Siena, que a verdadeira briga não era travada entre Capuletos e Montéquios, mas entre as famílias Tolomei e Salimbeni. Quando a jovem Giulietta foi para a cidade morar com seu tio, sua beleza encantou o sanguinário Salimbeni, que decidiu se casar com ela e ameaçou os Tolomei caso o matrimônio fosse negado. O problema é que a moça já estava apaixonada por Romeo Marescotti, desencadeando o enredo que, nas mãos do Bardo, ganharia fama internacional.

Na Itália, Julie descobre esta nova versão da história. Ela também encontra registros da pesquisa de sua mãe sobre a genealogia da família e conhece pessoas como a rica Eva Maria Salimbeni, o pintor Maestro Lippi e o policial Alessandro Santini. Ao mesmo tempo que persegue seus mistérios familiares, a protagonista precisa decidir quem merece sua confiança e seu amor.

Com capítulos que alternam a narrativa contemporânea aos acontecimentos de 1340, "Julieta" é um livro leve. Alguns pontos do enredo parecem apressados e, várias vezes, forçados - os moradores atuais de Siena parecem determinados a viver unicamente segundo o nome de suas famílias, como se estivessem destinados a repetir a história de seus antepassados. Mesmo assim, é um livro agradável para quem deseja preencher o tempo entre leituras mais densas.

"Julieta" foi publicado pela editora Arqueiro. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sábado, 8 de abril de 2017

resenha | Os 13 porquês

por Maria Clara


"Os 13 porquês", do americano Jay Asher, trata de um tema delicado: suicídio. Semanas depois da morte da adolescente Hannah Baker  que se matou tomando remédios , seu colega Clay Jensen recebe uma caixa com sete fitas cassete gravadas pela garota. Nelas, ela promete explicar cada um dos 13 motivos que a levaram a encerrar sua vida.

Chocado com a existência das gravações, Clay passa a noite escutando as fitas, preocupado com o momento em que seu nome será citado  segundo Hannah, cada pessoa a receber as fitas está presente nas histórias que elas contam e, portanto, é uma das razões de sua decisão.

Aos poucos, o rapaz percebe que não conhecia Hannah de verdade. Vítima de boatos que cresceram até o nível de bullying, a garota não conseguia fazer amizade com ninguém da escola e vivia solitária, sem ninguém a quem se conectar. Seus pedidos de ajuda não eram compreendidos pelos colegas nem pelos professores e, a cada tentativa frustrada de sobreviver à situação, se firmava na adolescente a sensação de que nada conseguiria resolver seus problemas.

Com ritmo ágil e intercalando a voz de Hannah aos comentários de Clay, "Os 13 porquês" mostra o quanto nossas ações podem interferir na vida de outra pessoa. A falta de empatia dos colegas da protagonista foi crucial para sua decisão, levando-a a acreditar que nenhum deles se interessaria por saber quem ela era de verdade e que a única maneira de acabar com o sofrimento seria, também, acabar com sua própria vida.




O livro foi adaptado para a série "Thirteen reasons why", disponível na Netflix. Com algumas modificações no enredo, mas se atendo à história original, os 13 episódios acompanham Clay escutando cada uma das fitas e as consequências das gravações na vida de todos que foram citados. Por se aprofundar na vida dos outros personagens, a série mostra não só a influência dos colegas no suicídio de Hannah, mas também as consequências de sua morte (e dessa própria influência) na vida de cada um. Além disso, trata de assuntos como bullying e abuso sexual.

A popularidade da série trouxe, às redes sociais, o debate sobre suicídio. No mesmo dia da estreia, a hashtag #NãoSejaUmPorque atingiu os trending topics brasileiros do Twitter. Momentos  tanto do livro quanto de sua adaptação  em que o assunto é discutido abertamente também ressaltam a necessidade de oferecer amparo a quem apresenta alguma tendência a tirar a própria vida.




Nesses casos, é importante mostrar à pessoa que ela tem alguém a quem recorrer e que a morte não é a única solução para seus problemas. No panfleto "Falando abertamente sobre suicídio", o Centro de Valorização da Vida (CVV) explica: "A pessoa que está numa crise suicida se percebe sozinha e isolada. Se um amigo se aproximar e perguntar 'tem algo que eu possa fazer para te ajudar?', a pessoa pode sentir abertura para desabafar. Nessa hora, ter alguém para ouvi-la pode fazer toda a diferença. Quem decide ajudar não deve se preocupar com o que vai falar. O importante é estar preparado para ouvir" (para acessar o material, clique aqui ou na imagem acima).

"Os 13 porquês" foi publicado pela Editora Ática. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 30 de março de 2017

resenha | Pequenas grandes mentiras

por Maria Clara


Madeline ama os três filhos, mas seu relacionamento com a mais velha - fruto de um casamento anterior - está abalado. Celeste é linda, rica e, ao lado do marido e dos filhos, é o retrato vivo de uma família perfeita. Jane tem 24 anos e é uma mãe dedicada que se esforça na tarefa de criar o filho sozinha. O livro "Pequenas grandes mentiras", que tem as três como protagonistas, poderia ser apenas um romance sobre a relação entre estas mulheres - mas vai além disso.

Escrito pela australiana Liane Moriarty, o livro apresenta os moradores de uma pequena cidade cuja vida gira em torno do mundo escola. Forçados a conviver graças aos filhos, os pais de uma turma de jardim de infância se veem em conflito após um caso de bullying. Quando uma menina volta da aula com sinais de agressão e acusa o filho de Jane, Ziggy, a tensão coloca os pais uns contra os outros. O crescente conflito entre os adultos é mesclado à investigação de uma morte que, apesar de acontecer mais à frente cronologicamente, é apresentada ao leitor logo no início da história.

Sozinha com o filho na nova cidade, Jane encontra apoio em Madeline e Celeste. Rapidamente, as três se tornam amigas, apesar das pequenas mentiras que contam sobre suas vidas - mentiras pequenas, sim, mas cuja importância cresce à medida que descobrimos as verdades que encobrem. O passado de Jane, que ela esconde até da família, faz com que a jovem duvide, em alguns momentos, se conseguirá educar bem seu filho e mesmo se o menino é realmente inocente das agressões à colega.

Celeste é o tipo de mulher perfeita de quem todas as outras mães do jardim de infância sentem inveja. Ninguém suspeita, da rotina que ela mantém com o marido, e que se aproxima de uma situação em que ela deverá tomar decisões sérias sobre o casamento.

Em comparação às amigas, Madeline talvez esteja em melhor situação. Abandonada pelo ex-marido há mais de 15 anos, ela ainda não superou o novo casamento dele, a amizade de sua filha mais velha com a nova esposa do pai e o fato de que as respectivas filhas mais novas de cada um são colegas de sala. Das três protagonistas, porém, ela é a que menos esconde sobre sua própria vida. Com certo ar de abelha-rainha adolescente, trava uma luta pela liderança entre as mães do jardim de infância e tenta sempre resolver os problemas de quem está ao seu redor.

Além dos problemas de cada protagonista, o livro une todos os personagens com a investigação de um assassinato. Cada capítulo é encerrado com declarações dos pais e mães que têm crianças no jardim de infância sobre a morte - mas sem dar ao leitor nenhum detalhe sobre o fato.

Adaptado pela HBO para uma série de mesmo nome, "Pequenas grandes mentiras" discute violência doméstica e agressão sexual enquanto mostra a importância da sororidade na superação desses problemas. Mesmo sem conversar abertamente sobre os dramas que vivem, as três protagonistas encontram umas nas outras a força para seguirem em frente. Ao mesmo tempo, é apresentada uma competitividade feminina extrema, de modo que o comportamento geralmente esperado de panelinhas de escola é visualizado entre as responsáveis pelas crianças.



A conclusão do livro pode parecer apressada, mas faz sentido quando se considera que a cidade é bastante pequena e que todos os seus habitantes têm o hábito de comentar excessivamente a vida dos outros. O final se mantém à altura de um enredo que se destaca por não apresentar mulheres "boas" ou "más", mas personagens complexas que lidam com conflitos profundos. A adaptação televisiva já está em exibição e as protagonistas são interpretadas por Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodlay.

"Pequenas grandes mentiras" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 16 de março de 2017

resenha | Antes que eu vá

por Maria Clara


Samantha Kingston está no último ano da escola. Ela e suas três amigas se dividem entre as aulas e as aulas, festas e atividades sociais da escola - como o Dia do Cupido, em que os estudantes enviam rosas a seus amigos. A data é uma das preferidas de Sam, já que as pessoas com mais rosas são consideradas as mais populares do colégio. O dia ocorreria sem sobressaltos, não fosse pelo fato de que, ao final dele, a protagonista sofre um acidente fatal.

Escrito por Lauren Oliver, "Antes que eu vá" mostra Sam tentando entender a situação: ela percebe, logo no início, que morreu. Como é possível, então, que ela acorde todas as manhãs no mesmo Dia do Cupido? A adolescente não entende se está sendo punida por forças maiores ou se recebeu uma oportunidade de se salvar. Aos poucos, ela começa a repensar sua relação com a família, os amigos, o namorado e mesmo os colegas que perseguia e discriminava.

Como é de se esperar, reviver o mesmo dia faz com que Sam se aproxime mais das pessoas que a cercam. Ela passa a ter mais contato com todos, descobrindo fatos da vida de cada um que a ajudam a criar empatia pelos colegas. A cada "novo" dia de repetição, ela tem novas ideias para encerrar os assuntos que deixou inacabados, amadurecer, se reconciliar com o que acredita ser a atitude correta e sair das repetições em que o acidente lhe lançou.




A história deu origem a um filme de mesmo nome, dirigido por Ry Russo-Young e que deve ser lançado em maio. Na adaptação, Samantha é interpretada por Zoey Deutch (que já viveu a protagonista de Vampire Academy, Rose Hathaway).

"Antes que eu vá" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 9 de março de 2017

resenha | O Conto da aia

por Maria Clara

Offred é uma aia. No  arranjo social de Gilead, isso significa que ela é uma das mulheres que ainda são capazes de ter filhos  mas também quer dizer que deve andar sempre de vermelho, não pode ter acesso à leitura, seu contato com o mundo é limitado e ela pertence a um homem.

A protagonista de "O Conto da aia", da canadense Margaret Atwood, vive em uma distopia. Gilead se localiza onde, anteriormente, eram os Estados Unidos. Depois de conflitos com o Irã, o país passou por grandes mudanças, passando a ser comandado de forma totalitária e machista. A segregação social se tornou mais evidente e exclui, principalmente, as mulheres: elas se dividem em Esposas (ricas, casadas com Comandantes), Econoesposas (pobres, mas ainda com certa posição social), Marthas (responsáveis por serviços domésticos) e Aias.

Narrado por Offred, o livro mostra os primeiros anos da nova vida em Gilead. Oprimidas pelos homens que comandam o país, elas são constantemente vigiadas e não têm liberdade para conversar livremente nem entre si mesmas. A protagonista perdeu seu nome de batismo ("Offred" é "of Fred", que pode ser traduzido como "de Fred", o nome de seu comandante; quando uma aia muda de dono, também assume o nome do novo homem a quem deve servir) e sua família  ela tinha um marido e uma filha pequena, e a dúvida sobre o destino dos dois é o que ajuda a manter a personagem sã em meio à vida de confinamento.


O livro aborda, especialmente, as relações entre as mulheres de Gilead. Apesar de serem as maiores responsáveis pela continuação das famílias, as aias são desprezadas pelas outras: obrigadas a se sujeitar a diferentes homens, são vistas como prostitutas e como indignas do respeito das Esposas. No próprio grupo de aias, há aquelas que abraçam a nova função e tentam se sobrepôr às outras, e todas são treinadas e vigiadas pelas Tias: mulheres que, assim como os capatazes na época da escravidão brasileira, são responsáveis pela opressão a seus pares e que parecem acreditar fervorosamente nos objetivos da classe dominante.


Publicado em 1985, "O Conto da aia" permanece atual ao levantar questionamentos sobre o valor da mulher. Numa época em que o debate feminista ganhou as ruas e as redes sociais, trechos em que aias lembram dos abusos que sofreram no passado trazem à mente questões levantadas, por exemplo, pelo movimento "Eu não mereço ser estuprada". Trechos sobre aborto, métodos contraceptivos e orientação sexual também são pontos fortes do enredo.

A função feminina relativa às tarefas domésticas também é observada, ainda que de forma mais sutil (as Marthas cuidam da cozinha e da limpeza, mas o tratamento dado a elas lembra pontos da discussão sobre as empregadas domésticas  com a diferença de que, em Gilead, elas são abertamente tratadas como propriedade da casa).


Faye Dunaway e Natasha Richardson na adaptação de 1990
Entre Esposas e Aias, a tensão é mais forte. Para as primeiras, a esterilidade significa a falha no objetivo principal de procriação, que seria a função característica de uma mulher. A convivência com uma aia dentro da própria casa, então, é tanto uma dependência de alguém mais habilitado biologicamente quanto um incômodo por ter de aceitar uma espécie de amante do marido. Para as segundas, a necessidade de agradar  ou, ao menos, não irritar muito  as donas da casa é uma forma de sobrevivência na nova realidade em que foram obrigadas a viver.

Com texto fluido mas de conteúdo extremamente profundoe propício à reflexão, o livro foi adaptado para o cinema em 1990. No filme "A Decadência de uma espécie", a protagonista é interpretada por Natasha Richardson, enquanto Faye Dunaway e Robert Duvall são responsáveis pela Esposa e pelo Comandante.


Elisabeth Moss como Offred, na série que estreia em abril

O livro está sendo novamente adaptado para uma série, com o mesmo nome da obra original. Produzida pelo site Hulu, ela está prevista para estrear em abril de 2017 e traz Elisabeth Moss no papel de Offred.

"O Conto da aia" foi publicado pela editora Rocco. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 2 de março de 2017

resenha | Depois de você

por Maria Clara


Em "Como eu era antes de você", a autora Jojo Moyes apresentou a história de Louisa Clarke e seu relacionamento com o bilionário Will Traynor. Tetraplégico, Will quer cometer suicídio assistido e nem o amor de Lou consegue convencê-lo a mudar de ideia. O tempo que os dois passam juntos, porém, tem grande influência na vida da moça: apaixonado por ela, Will tenta expandir sua forma de ver o mundo e perseguir seus sonhos.

Mais de um ano depois de perder Will, Louisa volta às páginas de Moyes - e se o primeiro livro terminou dando um toque de esperança à vida da protagonista, a continuação mostra que essa sensação não durou tanto tempo.

Em "Depois de você", Louisa trabalha como garçonete de um pub no aeroporto. Ela passou alguns meses viajando pela Europa mas, em pouco tempo, percebeu que ainda não havia superado a morte do antigo patrão e voltou para a Inglaterra, apesar de não retornar à casa dos pais: agora, ela mora em Londres, a pouco tempo do novo emprego (que detesta e onde não é valorizada).

Sozinha no apartamento onde mora, ela sofre um acidente - interpretado pela família como uma tentativa de suicídio - e conhece Lily, filha adolescente de Will. Nem o próprio Will sabia da existência da menina, que passa a morar com Lou para saber mais sobre o pai. O livro se baseia na convivência das duas, como forma de resgatar a história do bilionário, e na tentativa de Louisa de seguir em frente e lidar com os sentimentos por outro homem.

"Depois de você" segue o tom do primeiro livro, focando no crescimento pessoal de Lou. Nos primeiros capítulos, a dor da perda de Will ainda é bastante forte e ela acaba por pautar sua vida por aquilo que ainda a conecta a ele, mas aos poucos percebe que precisa conciliar seu luto com a necessidade de dar continuidade a sua vida e se permitir viver novos amores.

O livro começa depois de Lou tentar seguir os conselhos de Will

O tratamento dado por Moyes à tristeza da protagonista não é forçado nem artificial; Louisa realmente sente dificuldades para superar o luto, mas não a ponto de ter atitudes exageradas. A relação com Lily pode ser estranha - afinal, a menina tem apenas 16 anos e o leitor pode se perguntar onde estão os responsáveis por ela (a pergunta é respondida no livro) -, mas a estranheza da situação não escapa à percepção de Lou, que também sabe que precisa se esforçar para ficar bem de novo. O que ela não sabe, por causa do próprio luto, é como começar esse esforço.

A história continua apresentando Lou como uma personagem interessante e com diferentes nuances, distante da jovem efusiva e colorida que inicia o primeiro livro. Com uma carga dramática maior, agora que até os personagens secundários precisam lidar com a morte de Will, "Depois de você" é a continuação que "Como eu era antes de você" merecia: sem exageros nem dramalhão, mas abordando o luto e a luta da protagonista de forma honesta e sensível.

"Depois de você" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

resenha | História da sua vida e outros contos

por Maria Clara


Vencedor de prêmios de ficção científica como o Hugo Awards e o Nebula Awards, o escritor norteamericano Ted Chiang reuniu, em "História da sua vida e outros contos", oito narrativas diferentes. Tratando principalmente da busca do conhecimento, o livro apresenta histórias ambientadas em diferentes épocas.

O primeiro conto, "A Torre da Babilônia", mostra os esforço dos construtores da também conhecida como Torre de Babel: com o objetivo de chegar até o céu, os trabalhadores passam um ano subindo a torre, e a perca de um tijolo é mais sentida que a morte de um homem. O protagonista, Hillalum, avalia a construção e os mistérios divinos a partir do ponto de vista de um escavador (sua função na construção).

"Entenda", o segundo conto, traz a história de um homem que, depois de um tratamento experimental, adquire consciência completa de sua mente e do funcionamento de seu cérebro. Aos poucos, o peso de tanto conhecimento transforma sua maneira de lidar com a sociedade e com seu próprio potencial, levando a uma interessante disputa psicológica. O enredo lembra o do filme "Lucy", em que Scarlett Johansson vivia uma mulher em situação semelhante.


"Entenda" se assemelha à premissa do filme "Lucy", de Luc Besson

A história "Divisão por zero" traz um questionamento à matemática. Enquanto desenvolve um formalismo, a professora Renee Norwood faz uma descoberta que muda a noção de exatidão que se tem sobre a aritmética: seria possível provar que "1 = 2"? Seria possível, ainda, provar que quaisquer outros números também são iguais? Rapidamente, o questionamento sobre a matemática se transforma numa dúvida sobre tudo o que a protagonista tinha como certeza.

O conto que dá nome ao livro trata dos esforços da linguista Louise Banks para estabelecer a comunicação com alienígenas que chegaram à terra. Em "História da sua vida", ela mescla o método de contato com os extraterrestres à lembrança de diferentes fatos da vida de sua filha. As duas narrativas lentamente mostram sua relação, misturando noções como o futuro e a capacidade de raciocínio a partir da forma como nos relacionamos com a língua. A história foi adaptada para o cinema, dando origem ao filme "A Chegada" - indicado ao Oscar em oito categorias.




Em "Setenta e duas letras", Chiang trata da geração de vida em seres inanimados. O conto apresenta tentativas de animar autômatos, evocando tanto robôs quanto os golems da tradição judaica. Indo além do que o enredo traz, porém, também é possível ao leitor fazer referência a questões genéticas - como a seleção, ainda em fase embrional, das características que cada indivíduo apresentará ao nascer.

"A Evolução da ciência humana" se diferencia dos outros contos por sua estrutura: mais curto, o texto se assemelha a um artigo de revista. Ao final do livro, nas notas em que fala sobre cada conto, Chiang explicou que se trata realmente de um texto proposto pela revista Nature, em que o autor deveria falar sobre um desenvolvimento científico a ocorrer no milênio seguinte.

Fenômenos ligados a religião são o tema central de "O Inferno é a ausência de Deus". Esta história, porém, acompanha a relação de três pessoas com a aparição de anjos - cujos efeitos podem ser fatais para os humanos. O conto questiona se uma vida virtuosa é garantia para a eternidade no paraíso.


O escritor Ted Chiang


"Gostando do que vê: um documentário" é uma grande discussão sobre a beleza, a importância que damos a ela e suas relações com a discriminação. Ao propor um debate sobre a possibilidade de tornar as pessoas imunes à diferenciação entre "belo" e "feio", Chiang faz com que o próprio leitor se questione sobre o quanto valoriza o quesito estético em suas relações. O texto dispõe os depoimentos como se fosse, realmente, um documentário. O fato de que não há como ver o rosto de cada entrevistado, porém, é um elemento a mais no debate estético, já que não é possível ver a aparência de quem é contra ou a favor da capacidade de enxergar a beleza.

Reunidos, os contos de Chiang oferecem ao leitor não apenas um bom entretenimento, como também oportunidades de pensar sobre a ciência em nosso cotidiano.

"História da sua vida e outros contos" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

resenha | Tony & Susan

por Maria Clara


Susan Morrow, a protagonista de "Tony & Susan", do norteamericano Austin Wright, tem uma vida tranquila. Dedicada a cuidar da família e da casa, ela vive com os três filhos e o marido e não tem muitas emoções além da rotina doméstica. Isso muda, porém, ao receber uma encomenda do ex-marido: escritor, Edward lhe envia a primeira versão de um livro e pede que ela o leia.

A partir daí, Susan começa a dedicar suas noites à leitura do romance "Animais Noturnos". A obra de Edward conta a história de Tony Hastings, um homem que vê a esposa e a filha serem sequestradas durante uma viagem de férias. Sem conseguir defendê-las, ele passa o resto da vida tentando lidar com a violência que a família sofreu nas mãos dos bandidos que encontrou na estrada.

Enquanto Susan acompanha a história de Tony, ela relembra seu relacionamento com Edward  desde a adolescência, quando se conheceram, até os acontecimentos que culminaram com o divórcio. Incomodada por ter recebido o livro, ela continua a leitura por pressentir um objetivo oculto: ela acredita que Edward tinha algum tipo de recado para passar a ela por meio do romance.

"Tony & Susan" oferece uma narrativa dentro de outra: o leitor não só lê a história de Susan, como também lê a história de Tony enquanto ela é lida por Susan. Ao mesmo tempo em que acompanhamos as desventuras do homem que sofre por se afastar da família e as reflexões de uma mulher sobre seu primeiro casamento, acompanhamos a opinião e as reações desta mulher ao livro que lemos com ela.

O resultado é quase um exercício de metalinguagem: o leitor se percebe analisando a própria condição de leitor, já que todos os acontecimentos do romance são provenientes das sessões de leitura de Susan. Isso é melhor demonstrado nos trechos de maior violência ou impacto de "Animais Noturnos": logo que uma novidade no enredo criado por Edward desperta uma reação no leitor, a mesma é anunciada por Susan, que reflete sobre o livro do ex-marido a cada novo capítulo.

Embora essa seja uma característica interessante de "Tony & Susan"  e, talvez, seu ponto alto , o livro possui ritmo lento e a condução da história principal se torna um pouco monótona. A trama protagonizada por Tony oferece boas oportunidades de pensar sobre a coragem de defender aqueles a quem se ama e o ponto em que justiça e vingança se confundem. O enredo que acompanha Susan, porém, parece carecer de mais informações. Ela sente que está deixando algo passar enquanto lê o livro de Edward, e isso faz com que ela  e o leitor  entrem em um estado de incômodo contínuo.



Publicado em 1993, "Tony & Susan" chegou aos cinemas em janeiro de 2017, com o nome "Animais noturnos". Dirigida por Tom Ford, a adaptação é estrelada por Amy Adams e Jake Gyllenhaal e foi indicado ao Oscar em oito categorias: melhor filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, edição, design de produção, edição de som e mixagem de som.

"Tony & Susan" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.
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