quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

resenha | Tony & Susan

por Maria Clara


Susan Morrow, a protagonista de "Tony & Susan", do norteamericano Austin Wright, tem uma vida tranquila. Dedicada a cuidar da família e da casa, ela vive com os três filhos e o marido e não tem muitas emoções além da rotina doméstica. Isso muda, porém, ao receber uma encomenda do ex-marido: escritor, Edward lhe envia a primeira versão de um livro e pede que ela o leia.

A partir daí, Susan começa a dedicar suas noites à leitura do romance "Animais Noturnos". A obra de Edward conta a história de Tony Hastings, um homem que vê a esposa e a filha serem sequestradas durante uma viagem de férias. Sem conseguir defendê-las, ele passa o resto da vida tentando lidar com a violência que a família sofreu nas mãos dos bandidos que encontrou na estrada.

Enquanto Susan acompanha a história de Tony, ela relembra seu relacionamento com Edward  desde a adolescência, quando se conheceram, até os acontecimentos que culminaram com o divórcio. Incomodada por ter recebido o livro, ela continua a leitura por pressentir um objetivo oculto: ela acredita que Edward tinha algum tipo de recado para passar a ela por meio do romance.

"Tony & Susan" oferece uma narrativa dentro de outra: o leitor não só lê a história de Susan, como também lê a história de Tony enquanto ela é lida por Susan. Ao mesmo tempo em que acompanhamos as desventuras do homem que sofre por se afastar da família e as reflexões de uma mulher sobre seu primeiro casamento, acompanhamos a opinião e as reações desta mulher ao livro que lemos com ela.

O resultado é quase um exercício de metalinguagem: o leitor se percebe analisando a própria condição de leitor, já que todos os acontecimentos do romance são provenientes das sessões de leitura de Susan. Isso é melhor demonstrado nos trechos de maior violência ou impacto de "Animais Noturnos": logo que uma novidade no enredo criado por Edward desperta uma reação no leitor, a mesma é anunciada por Susan, que reflete sobre o livro do ex-marido a cada novo capítulo.

Embora essa seja uma característica interessante de "Tony & Susan"  e, talvez, seu ponto alto , o livro possui ritmo lento e a condução da história principal se torna um pouco monótona. A trama protagonizada por Tony oferece boas oportunidades de pensar sobre a coragem de defender aqueles a quem se ama e o ponto em que justiça e vingança se confundem. O enredo que acompanha Susan, porém, parece carecer de mais informações. Ela sente que está deixando algo passar enquanto lê o livro de Edward, e isso faz com que ela  e o leitor  entrem em um estado de incômodo contínuo.



Publicado em 1993, "Tony & Susan" chegou aos cinemas em janeiro de 2017, com o nome "Animais noturnos". Dirigida por Tom Ford, a adaptação é estrelada por Amy Adams e Jake Gyllenhaal e foi indicado ao Oscar em oito categorias: melhor filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, edição, design de produção, edição de som e mixagem de som.

"Tony & Susan" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

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