Juliette Ferrars já matou uma criança (por acidente), foi trancada num hospício e quase usada como arma por um sistema político ditatorial conhecido como Restabelecimento. Tudo isso, porque a adolescente é capaz de matar ou ferir seriamente todas as pessoas que tocam sua pele - ou quase todas.
Protagonista de "Estilhaça-me", Juliette continua a lidar com seu poder na sequência "Liberta-me", segundo livro da trilogia escrita pela norte-americana Tahereh Mafi. Agora, a garota já fugiu de Warner, que a raptou para o Restabelecimento; já encontrou abrigo no Ponto Ômega, refúgio para quem precisa se esconder do governo; já está em um relacionamento com Adam, o rapaz que consegue tocá-la sem se ferir. É hora de decidir o que fazer daqui em diante.
No Ponto Ômega, a moça conhece outras pessoas com habilidades especiais e é chamada para lutar com elas contra a ditadura - ser usada como arma, mas agora, pelo "lado bom". Enquanto tenta entender seu papel na revolução contra o Restabelecimento, Juliette descobre a extensão de seu dom e se vê obrigada a reconhecer que Warner também pode encostar nela. Subitamente, a menina se vê em um complicado triângulo amoroso, já que o rapaz se diz perdidamente apaixonado.
Em "Liberta-me", Tahereh Mafi continua a usar strike outs (as frases em que a escrita é riscada) para os pensamentos que a protagonista tenta reprimir. Dessa vez, contudo, o recurso é menos utilizado, como se a adolescente estivesse começando a organizar melhor suas ideias. O ritmo das frases, principalmente em momentos de tensão, continua a dar a sensação de que, mais que contando a história, Juliette está nos colocando dentro de sua cabeça: não é a voz da narradora que ouvimos, mas sua mente.
O ponto fraco do livro é a indecisão da protagonista: em meio ao caos da sociedade e à necessidade de uma força política - e física - que se oponha ao Restabelecimento, a garota continua fechada em seus problemas pessoais e dramas amorosos, sem ao menos tentar entender aquilo pelo que outras pessoas passam. O momento em que Kenji, um dos "mutantes" do Ponto Ômega, chama Juliette à realidade é um alívio para o leitor que sentia vontade de fazer a mesma coisa.
"Liberta-me" foi publicado pela editora Novo Conceito. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.