sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Extraordinário

por Maria Clara

August Pullman tem dez anos de idade e nunca foi à escola. O menino, que mora com os pais, a irmã mais velha e uma cachorrinha de estimação, nasceu com uma série de problemas genéticos que resultam em uma anomalia facial. Por isso, sempre estudou em casa. O livro Extraordinário, da norteamericana R. J. Palacio, começa pouco antes dos pais do protagonista decidirem que já é hora dele receber a mesma educação que outras crianças: em uma escola regular.

Extraordinário é contado a partir de diferentes pontos de vista: embora o personagem principal da história seja August, o enredo também é narrado por seus colegas de classe, sua irmã mais velha e o namorado dela. A diversidade de vozes falando sobre o mesmo assunto não resulta apenas em mais formas de ver a vida de Auggie (apelido carinhoso que o menino ganhou da família). Como o rosto do garoto causa estranhamento, é possível perceber a forma como cada personagem reage ao encontrar alguém diferente do “normal” ou convencional.

Inicialmente, o leitor tem apenas uma vaga ideia de como é a aparência de Auggie. O próprio garoto tem resistência a falar sobre seu rosto: "Não vou descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque provavelmente é pior", afirma a criança logo no início do livro. É a partir dos depoimentos de Summer, sua colega de classe, e Via, a irmã mais velha, que o livro apresenta uma descrição detalhada das feições do menino. Nesse ponto, quem lê a história já percebeu variadas situações de preconceito e discriminação contra August.

O preconceito sofrido pelo protagonista é o ponto central da história. Desde a reação dos colegas de sala, que se afastam de Auggie enquanto ele anda pela escola, até uma lembrança de Via de dois garotos que se assustaram com seu irmão quando ele ainda era pequeno, quase todos os personagens têm atitudes negativas na primeira vez que encontram o menino. Mas Palacio não permite que o livro seja inteiramente sobre as dificuldades de integração e sociabilização de seu personagem.

Desde o início de Extraordinário, a autora deixa claro que Auggie é mais que as deformidades de seu rosto: ele é, acima de tudo, uma criança carinhosa e simpática, que tem vontade de fazer amigos e é fã de tudo relacionado à saga Star Wars. Depois que se conhece sua personalidade, é possível “se acostumar com a cara dele”, como afirma Summer - e como vários alunos (nem todos) realmente se acostumam.

R. J. Palacio escreveu a história de August inspirada em um acontecimento real: certa vez, passeando com seus filhos, ela se sentou ao lado de uma menina com uma diferença craniofacial e seu filho mais novo, automaticamente, chorou de medo. Pensando nesse encontro e inspirada pela música “Wonder”, de Natalie Merchant, ela criou a história do menino de 10 anos que leva o leitor a se questionar: o que eu faria se visse uma criança assim na rua?



Como o livro mostra Auggie na escola, o bullying também é um elemento presente na trama. O garoto precisa conviver com diferentes formas de preconceito, como ser evitado no refeitório, ter a reputação de alguém que não pode ser tocado e mesmo enfrentar situações de violência. Com isso, o livro estimula a discussão sobre o preconceito nas escolas, e levou à criação do Choose Kind - tumblr que estimula os internautas a se engajarem no combate ao bullying.

"Extraordinário" foi publicado pela editora Intrínseca. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sábado, 20 de junho de 2015

Morte em Pemberley

por Maria Clara


A britânica P. D. James, morta em 2014, alcançou o sucesso escrevendo ficção policial. Em 2011, ela partiu de um clássico da literatura mundial para escrever seu último livro: "Morte em Pemberley", que se passa seis anos depois do final de "Orgulho e Preconceito".

Na obra mais conhecida de Jane Austen, acompanhamos o início da interação entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy, além das desventuras que marcam o início do relacionamento do casal - personificadas na irmã de Elizabeth, Lydia, e no jovem oficial George Wickham.

"Morte em Pemberley" mostra Elizabeth e Darcy felizes com a vida de casados, cuidando dos negócios, da casa e de dois filhos. O contato da protagonista com sua irmã e confidente Jane é mantido, assim como o de Darcy com seu amigo Bingley. A relação com Lydia e Wickham, porém, é mais delicada, e é responsável pelo ponto central do enredo.

Durante a preparação para o Baile de Lady Anne, comemoração tradicional em Pemberley, Darcy e Elizabeth são surpreendidos pela chegada tempestuosa de Lydia. Com a ideia de participar da festa mesmo sem haver sido convidada, ela seguia para a casa da irmã acompanhada de Wickham e do capitão Denny, amigo de seu marido. Quando chega a Pemberley, porém, ela está sozinha e em pânico, gritando que houve um assassinato na floresta, levando os personagens a uma investigação para provar se Wickham é ou não um assassino.

Apesar de partir de "Orgulho e Preconceito", "Morte em Pemberley" não coloca Elizabeth como protagonista. Na trama policial, é Darcy que fica com a maior parte das cenas, das decisões e dos conflitos, enquanto a esposa se preocupa com questões domésticas e apoia o lorde emocionalmente.

Essa mudança pode incomodar os fãs que desejavam mais ação de sua heroína, mas a maneira como P. D. James conduz a história não dá muita margem a insatisfação por parte dos leitores. O enredo acompanha toda a investigação do crime, dando informações sobre todos que teriam motivo para cometer o assassinato e levando o leitor a tentar descobrir, por si próprio, a identidade do culpado.

Em 2013, o livro foi adaptado para a televisão e transmitido pela emissora inglesa BBC, como parte de sua programação especial de fim de ano. A série trouxe Matthew Rhys como Darcy e Anna Maxwell Martin como Elizabeth. O papel de George Wickham ficou com Matthew Goode, e Jenna Coleman interpretou Lydia.

"Morte em Pemberley" foi publicado pela editora Companhia das Letras. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Melancia

por Maria Clara


Claire Walsh é uma mulher de 29 anos que acabou de dar à luz sua primeira filha. Logo após o parto, porém, ela precisa lidar com outro assunto familiar: seu marido, James, anuncia que vai sair de casa para viver com a amante. Esse é o ponto de partida de "Melancia", primeiro romance da irlandesa Marian Keyes.

Lançado em 1995 e publicado no Brasil em 2003, o livro acompanha o retorno de Claire à casa dos pais (apesar de morar em Londres com o marido, a protagonista é irlandesa), sua nova rotina como mãe de primeira viagem e seu relacionamento com a família. A mãe de Claire, romântica e viciada em novelas, torce para uma reconciliação no casamento da filha, enquanto o pai, único homem do clã Walsh, parece estar à beira do desespero com tudo o que acontece na casa.

Das quatro irmãs da protagonista, duas - Margareth e Rachel - já saíram de casa e vivem em outro país. As que continuam na Irlanda tem personalidades completamente distintas. Hellen, a mais nova, é uma universitária extremamente bonita e habituada a ter todos os homens a seus pés, realizando todas as suas vontades. Já Anna, frequentemente desempregada, costuma sumir de casa por variados períodos de tempo - seus desaparecimentos geralmente estão ligados ao consumo de drogas e a uma paixão por bruxaria, vampiros e ocultismo. É com as duas e com sua mãe, porém, que Claire consegue conselhos ou críticas que a ajudem a resolver sua situação atual.

A história de Claire se complica graças às dúvidas sobre sua vida amorosa: ela não sabe se deve tentar retomar seu relacionamento com James ou aceitar de vez a ideia de que não está mais casada. Ao mesmo tempo, começa a se interessar por Adam, colega de Helen. Quando a protagonista parece mais estabilizada, seu marido a procura e a acusa de ser a responsável pela traição, piorando sua situação.

Abordando o drama familiar de forma leve e até divertida, Marian Keyes cria empatia entre o público e os personagens, levando o leitor a torcer por Claire e se interessar pelo que acontece com suas irmãs. Dos 16 livros já escritos pela autora (12 já foram publicados no Brasil), cinco se dedicam às herdeiras Walsh, além de um narrado pela mãe delas, tornando a família bastante popular entre leitores de chick-lit.

"Melancia" foi publicado pela editora Bertrand Brasil. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Chamado do Cuco

por Maria Clara

Lula Landry era uma supermodelo inglesa, famosa por sua beleza e por problemas pessoais: não conhecia sua origem (afrodescendente, foi adotada por uma família caucasiana), receava que todos os que conhecia estivessem interessados em seu dinheiro e mantinha um namoro complicado. Tudo o que se sabe sobre a bela garota é dito no passado, porque sua morte marca o início de O Chamado do Cuco, romance de estreia de Robert Galbraith, e cujo título leva o apelido da modelo.

A história começa quando o corpo de Lula é encontrado, já sem vida, na calçada em frente ao seu apartamento. Inicialmente entendida como suicídio, a morte da moça volta a ser investigada quando seu irmão, o advogado John Bristow, leva o caso ao detetive particular Cormoran Strike, protagonista do livro.

Cormoran passou a fazer investigações particulares depois de perder uma perna na guerra do Afeganistão e sair do exército britânico. Conciliando seus próprios problemas - o fim de um casamento um tanto intempestivo, problemas com a morte suspeita da mãe, uma relação conturbada com o pai (um artista de rock de quem é filho fora do casamento) -, ele precisa unir todas as pontas soltas que não foram consideradas pela polícia para esclarecer a morte da modelo. Lula realmente se jogou da cobertura onde morava, ou foi empurrada? Em caso de homicídio, quem teria interesse no assassinato da moça?

Ao longo do caso, o detetive recebe a ajuda de Robin Ellacott, secretária temporária que acaba conquistando seu respeito e admiração. Tentando decidir entre um "emprego de verdade" e o sonho de criança de desvendar crimes, é Robin quem ajuda o chefe a enxergar novos pontos de vista no caso, interrogar possíveis testemunhas e otimizar o trabalho. Além disso, ela faz a ponte entre a vida pessoal e a profissional de Cormoran, quase se tornando uma amiga, e mostra ser um personagem com bastante potencial para histórias futuras.

É de público conhecimento que Robert Galbraith, autor do livro, é um pseudônimo de J. K. Rowling, já consagrada pela série Harry Potter e autora da novela Morte súbita. Apesar da identidade do escritor ter sido descoberta com base nas semelhanças entre os livros, há diferenças na forma como cada história é contada - se comparado com Morte súbita, O Chamado do Cuco é mais agradável e conquista o leitor mais rapidamente. O livro é o primeiro de uma série (o segundo volume, O Bicho da seda, já foi publicado), e deve ser adaptado para a televisão pela BBC.

"O Chamado do Cuco" foi publicado pela editora Rocco. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sábado, 11 de abril de 2015

Filme: O Escaravelho do Diabo

por Maria Clara

Marco literário na vida de várias crianças que passaram a infância acompanhadas pela coleção Vagalume, o livro O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida, vai ganhar as salas de cinema. Com direção de Carlo Milani e previsto para estrear ainda em 2015, o filme já teve algumas imagens divulgadas.


A história original, publicada em 1972, fala sobre a atividade de um serial killer na cidade fictícia de Vista Alegre: pessoas ruivas começam a ser assassinadas, depois de receberem um besouro. O estudante de medicina Alberto, irmão de uma das vítimas, decide investigar os crimes para descobrir quem matou seu irmão. Acompanhado do inspetor Pimentel e do sub-inspetor Silva, ele procura pistas que o levem ao culpado.

O filme trará uma grande mudança: agora, o protagonista é um garoto de 13 anos, interpretado pelo ator Thiago Rosseti (da novela Carrossel). Contracenando com Marcos Caruso, na pele de Pimentel, ele tenta desvendar o mistério das mortes que continuam acontecendo na cidade — agora chamada Vale das Flores.


  
Por enquanto, não há trailer do filme, mas o público já pode ver as primeiras imagens liberadas pela Globo Filmes e pela Dezenove Som e Imagens, responsáveis pela produção:












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