Por Samira
Era manhã de quarta-feira quando o diretor da escola entrou na sala de número 01, onde estava o terceiro ano do ensino médio. Sua fala foi breve, porém segura. Naquele momento houve o anúncio oficial de que a escola havia incorporado um novo professor ao quadro de funcionários.
Como todo bom aluno de ensino médio, fiquei a pensar na matéria que aquele homem iria lecionar. Talvez história, geografia... Mas, não. Ele aparentava ser muito novo para saber a história do mundo e das rochas. Minha dúvida persistiu até o momento em que um colega do fundão levantou a mão e perguntou:
– Ele vai dar aula de quê, diretor?
A resposta assustou como o badalo de um sino às 6h da manhã:
– Química, queridos. Nosso novo professor é especialista na área. Tenho certeza que vocês irão amá-lo.
Respirei fundo e comecei a pensar como eu poderia tirar proveito da situação para tornar-me uma aluna cada dia melhor. Afinal, daquele momento em diante, eu teria, quatro vezes por semana, aula com um especialista. O diretor desejou boa aula, pediu licença e retirou-se da sala.
O professor novato esperava que um de nós quebrasse o silêncio, mas ao ver que ninguém iria falar, resolveu manifestar-se acerca do conteúdo programado para o segundo bimestre. Sem demora, pegou o giz e escreveu no quadro: “Nomenclatura de compostos orgânicos”. Exposto o tema, foi dada a largada para a primeira de muitas aulas complicadas que viriam.
Sempre ocupei a primeira carteira da sala. Se isso era bom porque me ajudava a não desviar o foco da atenção, ao mesmo tempo era ruim porque todo professor, independente da matéria, hora ou outra direcionava uma pergunta para mim. Para não quebrar a rotina, minutos antes do intervalo o professor novato veio em minha direção e...
– Ei, você de pulseira. Que nome eu posso dar para dois átomos de carbono e seis de hidrogênio?
Raciocinei, fiz cálculos e criei fórmulas em minha mente. Quando pensei ter certeza da resposta e resolvi falar, fui interrompida por um elogio.
– Parabéns! É isso mesmo. Dois átomos de carbono com seis de hidrogênio formam um Etano.
Sem reação estava, sem reação fiquei.
– Eu sabia que você iria acertar! São 10h, vamos sair. Após o intervalo continuaremos, disse o professor.
Ao concluir o ensino médio, divorciei-me da Química (apesar do nome, não havia química alguma em nossa relação), reatei o namoro com o Português e fiquei noiva da Comunicação. Sem Etano, encontrei a fórmula do amor perfeito.