por Maria Clara
Mika Hernsteyn é um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. Judeu polonês, ele enfrentou várias dificuldades até chegar aos Estados Unidos - onde, vários anos depois, conta sua história para o neto Danny. Este é o ponto de partida de "O Menino dos Fantoches de Varsóvia", primeiro livro de Eva Weaver.
Pouco antes da guerra chegar a Varsóvia (cidade natal do protagonista), o avô de Mika compra um sobretudo que terá grande importância na trama. Pela adição de bolsos internos, ele se torna uma forma de evitar que objetos de recordação, como cartas e fotos, sejam destruídos pelos soldados alemães. Quando seu avô morre, Mika herda o casaco e um ateliê de fantoches até então desconhecido em um quarto da casa. É a partir desse momento que a relação do garoto com a realidade da guerra se torna mais intensa.
Mika dá seguimento à confecção de fantoches, e começa a usá-los para entreter os outros judeus, levando alguns minutos de conforto à família e às crianças de um orfanato. Aos poucos, os fantoches passam a ser usados como uma forma de interagir com a dura situação, e parecem ganhar força própria, incentivando o garoto a fazer todo o possível para resistir à violência e à morte que cercam todos os personagens.
Um dos fantoches, representando um príncipe, é o que ganha mais destaque e marca uma transição no romance. Ele passa das mãos de Mika para as de Max, soldado alemão que é enviado para uma prisão na Sibéria quando a guerra acaba. Nesta segunda parte do livro, o sofrimento de Max estabelece um paralelo com a maneira com que os judeus eram tratados - ele mesmo começa a repensar sua conduta durante o confronto.
O príncipe leva seus donos (Mara, filha de Max, herda o fantoche do pai) a questionar o Nazismo e o que poderia ser feito para salvar vidas durante a guerra, além de mostrar o ponto de vista alemão. As ações de Hitler não aparecem no enredo - o próprio führer quase nunca é mencionado. A partir da experiência de um homem que cumpria ordens e de uma moça que, mesmo tendo nascido depois do conflito, se sente culpada pelas mortes, Eva Weaver cria uma narrativa melancólica que, unindo-se ao enredo esperançoso da primeira parte, faz do livro uma obra de qualidade e uma amostra da destruição que a Segunda Guerra Mundial trouxe para a vida de cada pessoa.
"O Menino dos Fantoches de Varsóvia" foi publicado pela editora Novo Conceito. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.
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