quinta-feira, 19 de outubro de 2017

resenha | Dias de abandono

por Maria Clara

Depois de 15 anos de casada, Olga recebe do marido, Mario, a notícia de que ele está indo embora de casa. Desempregada e sozinha com dois filhos e um cachorro, ela precisa se adaptar à nova vida.

Escrito pela misteriosa italiana Elena Ferrante – pseudônimo de autora desconhecida , "Dias de abandono" acompanha cada fase da reação de Olga ao fim do casamento. Choque, inércia, raiva, dor e negação se alternam enquanto a protagonista lida com a sensação de desamparo e as cobranças de amigos e conhecidos.

O enredo criado por Ferrante envolve o leitor no mesmo ritmo que a separação envolve a protagonista. Se a história começa com Olga agindo como se o fim do casamento não fosse grande coisa, aos poucos a realidade do abandono consome todos os pensamentos e ações da mulher. Seu sofrimento é potencializado por lembranças de uma vizinha dos tempos de criança: chamada de Pobre Coitada, a antiga conhecida perdeu sua vontade de viver depois de ser abandonada pelo marido.

Apesar do medo de repetir a história da Pobre Coitada, Olga também se distancia da vida que levava e da força que possuía. Os amigos insistem que ela precisa de um novo amor para seguir em frente. A amante de Mario é uma espécie de desafio a sua idade e experiência. Seus filhos são uma presença constante do ex-marido. O cachorro figura como uma preocupação indesejada e se soma às crianças como alguém que exige a completa atenção e da protagonista.

Mesmo não sendo excessivamente dramático, o enredo mostra o quanto Olga se sente sufocada e destaca a interação da protagonista com outras mulheres da história. Uma amiga tenta empurrá-la para um novo namorado, a filha estabelece uma espécie de competição e mesmo as lembranças da mãe mostram um ideal feminino de esposa perfeita que Olga não consegue alcançar.

Talvez pela forma de escrita de Ferrante, talvez pela construção bastante humana dos personagens, "Dias de abandono" é um romance no qual o leitor consegue se inserir, compartilhando um pouco do sofrimento de Olga e se imaginando na mesma situação. É uma narrativa simples e sincera que desperta a vontade de conhecer outros títulos da mesma escritora.

"Dias de abandono" foi publicado pelo selo Biblioteca Azul, da Globo Livros. Para adicioná-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

resenha | Alice no País das Maravilhas

por Maria Clara

Em 1856, o matemático Charles Lutwidge Dodgson conheceu a pequena Alice Liddell, filha do reitor de Christ Church  uma parte da universidade de Oxford. Na época, Dodgson tinha 24 anos e Alice, quatro. A interação entre os dois rendeu a história "Alice no País das Maravilhas", publicado pelo rapaz sob o pseudônimo Lewis Carroll (veja mais de sua biografia aqui).

Em "Alice no País das Maravilhas", o leitor acompanha a protagonista em uma viagem em busca do Coelho Branco. Tentando encontrar este personagem que está sempre atrasado, a menina conhece um gato que nunca para de sorrir, uma lagarta que fuma narguilé e um chapeleiro mentalmente desequilibrado, entre várias outras figuras icônicas da história.

Um ponto importante do livro é a constante mudança de tamanho de Alice: dependendo do que coma ou beba, a menina pode crescer até se tornar uma gigante ou encolher até que seu queixo bata diretamente em seus pés. Essa variação brusca lembra a forma como o crescimento infantil é tratado pelos adultos  quem não lembra da época em que ainda era pequeno para várias aventuras, mas ao mesmo tempo era grande demais para certos comportamentos?

A história também mostra Alice como uma criança bem educada aprendendo que, em certas situações, as boas maneiras não têm serventia alguma. A menina tenta se lembrar de cada regra de comportamento que já aprendeu em casa, assim como dos ensinamentos que recebeu na escola, para encontrar seu caminho no País das Maravilhas. Os outros personagens, porém, subvertem a lógica bem educada da menina, fazendo com que ela esqueça grande parte das normas de convivência que conhecia.

Marco da literatura nonsense, a criação de Carroll traz situações sem sentido do início ao fim da história. Embora cause estranhamento em alguns leitores (especialmente por causa da relação entre o autor e a Alice real), o livro ainda é um dos principais voltados ao público infantil. 

Apesar de ter sido publicado há mais de 100 anos, ele ainda gera adaptações para o cinema, televisão e outras obras literárias, permanecendo firme no imaginário tanto de crianças quanto de adultos.



"Alice no País das Maravilhas" foi publicado por diversas editoras - as ilustrações nesse post foram feitas por Sir John Tenniel, para uma das edições clássicas da obra. Para adiciona-lo à sua estante no Skoob, clique aqui.
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